segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Manicômio

Preciso falar, tenho ganas de falar. Minha boca se encheu de saliva, e não haverá barricada que contenha o polvoroso redemoinho de letras.
Vamos cá, onde cá faço minhas anotações mentais: viver, às vezes, me soa como viver às vezes. Nestes momentos, as vozes ribombam, e o perverso surge por detrás da testa: preciso fazer alguma besteira.
Gosto de fazer besteiras, daquelas em que eu me arrependo profundamente. O êxtase de mexer no mosaico cotidiano, embaralhando as cartas, é dramaticamente excitante. Ou isso, ou será o texto para ler, a festa na quinta, a debate na sexta e aquela menina exageradamente descolada para conquistar.
Uma vida sem riscos é a tragédia, calamidade do tranquilo, pois o rio, seguro de si, abraça tudo o que há de brando, na passividade própria de seu destino, que é percorrer neutro, retilíneo e equilibrado.
Provocação é o erro, arroubo de morder aquelas nuvens do dia a dia. Ah, eis que me surge dragão, intempestuosa sede de crescer!
Mas é claro que o coração agitado é um louco entre quatro paredes surdas, porque a extensão de sua expressão não é feita de qualidade involuntária, nervos impulsivos, cabelos excitados e elétricos: antes fosse. Se assim fosse, seríamos todos Cazuzas. Estaríamos afogados em ditames do coração. Daí que o cão ladra pela floresta, policiando o que há de selvagem, emboscando o louco que a pouco citei. Não é dele a propriedade do corpo. De quem é, então?
De quem calcula, e mais ainda, propõe: a mente realiza ambas, e escreve somente em sonhos e teoria a loucura do coração.
Então que faço eu com ele? Calado grita, gesticula fanático, exasperado, sôfrego! Reivindica algum soco, que o cardiograma só pulsa porque sim.
Quero pulsar por motivos além do sim natural. Quero pulsar porque sim, não, talvez, sempre e nunca. Pulsar porque ainda pulsa, porque ainda há tempo. 
Pulsar porque o sol bate, mesmo que lá fora. 

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