quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Mysteries

— But mysteries keep the flames of life. If there are no mysteries, there is no life. Or what burns you inside is everybody else's business?
— Oh...
Touched by the wise words, Anna decided to return at herself in silence. Maybe keeping a secret is not a killing action because of its loneliness. Instead of this, closing our lips and digesting our memories allow us to perpetuate more the past's taste and our will to live. Penetrating her land of hope — or flames, how said Mrs. Brigitte — and making it untouchable under protection of guards of her safety would give her the best of the best: integrity, such a thing that is often beat to death, smashed to the ground untill we beg protection as a failure of nature reaching for a Great Father.
Maybe she doesn't need that.
Maybe, to build the towers of her force and finally become a queen for herself and of herself, the only requirement would be silence. No democracy, no popular acceptation, no court's assignement. Only silence and a desert to reign, with all her legitimacy majesty.

Don Ratón e sua Gangue

— Quero fugir em disparada do mau cheiro daquele lugar. São ratos, Madalena. Ratos famintos e raivosos.
— O rato raivoso roeu o resto do romã.
— Que diabos o romã tem a ver com a história, Madalena?
— José, já abriu romã pra ver? São pequenas bolinhas doces. Deméter comeu três e foi condenada a passar três meses no inferno a cada ano — pelo resto da sua vida. Por você, comeram mais do que três; pelo menos devoraram o romã inteiro. Isto é, se toda tua súplica não for produto de uma inata sede por drama, queda e nascimento.
— Madalena, você não faz o menor sentido. Não foi o romã que me comeram: foi a roupa, o reino e a terra. Estou nu da pior forma possível: sem majestade pra exibir o próprio brilho.
— José, você é que não entende nada. Passa o pão, por favor.
Ele passa sem nem olhar o que faz: íris concentrada na dor, mundo ao redor é pura insignificância.
— Escuta: se tua vida se basear no rato que tanto te dita e fascina, tudo que é fora do reino dele irá perder seu encanto. Quero dizer; o lixão dele não é todo lugar pra onde você vai.
— É sim. Estou condenado a cheirar o lixo revirado mesmo quando em casa. Não há como vencer.
— Então desiste! Don Ratón e sua gangue não procuram por sangue novo. Só querem mesmo é espantar as almas que são obrigadas a passar perto deles. Você é obrigado a isto?
— Não. Mas aí eu seria covarde. Imagina só, um ser humano como eu, fugindo da raia a troco de felicidade.
— A troco de quê?
— ... Felicidade.
Passando a manteiga no pão, Madalena exclama:
— José, desertar não é maravilhoso!?
José teve que consentir. Madalena sempre será mais incrível que ele.

Fagocitose

Tenho cheiro de Globo.
Exauro, irradio plasticidade
Sou o menino dos olhos de Boni

Astro como auto-evidência
sou astro, como sei que penso:
eu astro, logo
infinitesimal-aurífera-quantidade-de-mim-como-porção-da-tela, sua
E grandiosamente nua
Esfregando-me no óleo para nosso deleite
Fantasia pura

Englobando, fagocitando, alimentando
Nosso rebanho de ser um
De ser uno
ao desmontar a consciência
e mergulhar no lago
Da concupiscência, enfim
Global.

Tagarelice

Ninguém escreve quando feliz, porque as palavras pesam no sorriso da gente.
O gozado é que quando estamos tristes, elas aliviam toneladas de aflição.
Palavra pode ser pena e pode ser peso, então.
---
Já fiquei cinco dias sem falar coisa alguma. Foi engraçado, porque quando eu pedia informação (escrevendo num papelzinho), as pessoas quase que gritavam. Gesticulavam loucamente, e tratavam de explicar o caminho da rua x didaticamente. Algumas olhavam com surpresa; outras, o que parecia ser dó.
Meu objetivo era ficar uma semana assim, mas de repente um professor de literatura norte-americano me parou na rua, pedindo ajuda, dizendo que precisava de dinheiro porque estava com fome.
Como diabos eu poderia ter ficado quieto?
---
Também já fiquei horas sem abrir os olhos. Saí pra ver uma menina, e nosso combinado era que ela me guiasse pelo braço durante todo o encontro.
Fascinante! Minha audição se desenvolveu muito; meu tato teve sensível melhora.
Mas a menina era diabólica. Uma hora começou a falar inglês comigo. Eu respondia da mesma forma, achando a situação engraçada. Andamos por uns 20 minutos assim, e eu rindo dela imitando o sotaque das meninas patricinhas dos EUA.
Uma hora alguém chegou perto de nós e disse:
— Vocês não podem ficar aqui. Isto é uma excursão própria para quem pagou.
Ela havia me colocado no meio de uns gringos que faziam uma excursão pela Avenida Paulista, e eu nem desconfiei de nada!
Saudade desta moça.
Aiai, moças.
----
Só me refiro a uma coisa com estes textos: expressão humana.
Como se conectar ao mundo, sem ser através dos meios comuns? Por que temos de falar tanto e tanto dizer o que nem importa?
Queria um mundo onde eu não precisasse dizer "oi" e nem "tudo bem", pois tudo estaria implícito no meu cabelo, olhar e andar.
Às vezes detesto falar, pois perco o ouro intocável aqui de dentro. Tenho que achar as palavras, juntá-las, entonar a voz, e parecer que elas são importantes...
Diante disso, fujo. Aqui dentro tudo está mais aquecido e claro. Lá fora, o esforço é tanto e trabalhoso, que fechar os lábios vale mais a pena.
Além do mais, as palavras custam em achar ouvido que preste. Todos estão tão sintonizados com a própria frequência que tem dificuldade em mudar de estação.
Agora, pior que isso, só as bocas ansiosas, que parecem galinhas desastradas.
Dá pra sair do galinheiro e olhar o mundo lá fora?
Só cocoreja: eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu.
Hoje fujo — quando dá.
Mas tá bom de texto, que por hoje eu já falei demais, credo.

Taurina

Medo
Ainda é cedo
Pra sofrer demais

Paixão, se não a tem
É porque é jovem
E essas coisas já passam


Seus olhos são azuis
e certos demais
Querida... Certo é teu nariz
Que anda reto

De resto, desconfie
saia de perto
reze um pouco...

Quem sabe numa nova esquina
alguém corte seu cabelo?

Enrolar

Eu quero tudo junto, agora e ao mesmo tempo. Quero ser engolido pelo mar e rolar entre a espumareia. Isso tudo até que meu cerebelo faça poesias sobre gregos bêbados, insubordinados e megalomaníacos.

Ar

Sendo a vida uma corrente de ar, é estranho pensar que em relação ao outro, sou uma parte que se encaixa entre este e aquele espaço. De verdade, nunca serei a chave que abrirá as portas do universo, mas uma coleção de coisas que passarão, e que se tornaram, tornarão ou tornariam.
Não, nunca habitarei o sol... Nunca serei o sol. Nunca serei o amor da vida de alguém, nem o melhor amigo dele, ou qualquer coisa que ganhe insígnias. Sou aquilo que caiu bem, somente.
Caiu bem no espaço em que tinha, e fez bem no tempo em que o ar me carregou. E depois... O ar, assim como trouxe, me levou para longe: evaporou, flutuou, sumiu.

Sempre Dizendo Qualquer Coisa

Sou jovem e inútil. O sol está irritado. Eu xingo as estrelas. E quando durmo, você parece um caracol.
Sou pequeno e arrogante. O sol me despreza. As estrelas me elogiam. E quando eu acordo, você parece uma tartaruga.
Sou médio e igual. O sol está lá. As estrelas também. Quando acordamos juntos, somos interessantes.
Não sei mais se o mundo é igual sempre, ou se os astros copulam escondido.

Sonho Brizado

Sonhei que fui para o período dos dinossauros. Um pássaro amarelo meio acabado e fêmea ficou irritado comigo, e resolveu me atacar. O marido dela foi acalmar a situação, e eu soei um Lá maior até que ela decidiu não mais usar o bastão que carregava pra me atacar.
Daí saí daquele mundo (que era dentro da loja do Gorillaz no iTunes), e fui assistir a um jogo do Michael Jordan, de basquete.
Terminei o sonho com o Michael Jackson sendo revivido pra sofrer durante anos sendo devorado por um rolo compressor.
Digamos que os lábios grossos resolveram falar com a razão, e afundou-se por completo em todo seu tecido intelectual. As teias da mente cercearam qualquer inclinação, disposição, anseio!, de tal forma que vi, com os olhos ansiosos, toda oportunidade passar. Minhas mãos estão leves e viciadas: o que fazer com tanto beijo perdido?

Cidadania

Que os dias sejam claros como a noite, e misteriosos como o sol. Brilhemos este mês segundo uma tentação pelo obscuro, e apaguemos o corpo entre outros corpos luminosos. Sejamos a taça para brindar nossos lados, útero e adolescência, sono e experiência.
Encoste o vidro, e escute o tilintar: quem brinda é seu semelhante, pessoa comum que atravessa a rua, senta ao seu lado no ônibus e vota em quem você nunca votaria.
Olho para o Brasil, agora com calma por perceber que assim são os ânimos e os opiniões, arcabouços de ideias que naturalmente digladiam entre si. Toco na ferida, não sou prosaico. Aécio, Marina, ou Dilma; contra ou a favor da redução da maioridade penal; foto colorida ou não; chato de esquerda ou chato de direita: todos imensamente semelhantes, até o último rastro de pessoa humana.
Não vos convoco à paz, como se bastasse dar os braços e proclamar uma eternidade plena de compreensão, equilíbrio e amor; muito pelo contrário. Conclamo a humanidade para pisar na rua e a considerá-la como chão de uma grande casa, o mundo. Cada banco é um sofá, cada indivíduo, você em outros mil aspectos.
Claro que brigamos. Claro que nos odiamos. Claro que matamos. Claro que postamos em tom de ironia e acidez para provocar o outro. Mas tudo isto tão estúpido e sério que só me dei conta agora. Somos semelhantes, semelhantes que se odeiam, que se amam, que se unem e dão unfollow.
Quem por acaso entender, que ótimo: dê um presente para seu vizinho, e relembre daquela palavra recôndita, recôndita... Cidadania.
Que pensas?

Juventude

Consigo empilhar as palavras que anseio como totalidade em minha vida: alicerce, núcleo, base, estrutura, pilar, égide, viga, torre, coluna, tríade, centro, concreto, mármore, cimento, tijolo e sustentação.
Mas eis que, no anseio de dar cabo à construção destes sinônimos, tropecei numa pedra, no meio da caminho. Como diabos irei iniciar a construção sem um esboço para guiar-me? Onde está a referência para a pavimentação do caminho?
Estava ela em Cronos, meu genitor. Provim dele. Mas conforme cresço, distancio-me deste imenso Titã. E conforme cresço e ando, vacilo entre os pregos e martelo: onde está o esboço?
Certo estou de que me entende, pessoa... A vida, este quadro produzido instantaneamente, não possui borda ou rascunho. Mas como diabo o escultor faria da pedra bruta qualquer coisa que não estivesse já presente como ideia?
É, é isso. E estaría perdido, se não tivesse percebido uma tremenda gafe de minha parte. O erro consistiu em fazer da construção, um projeto que se possa adiar, atrasar ou cerrar. Claro que não... Me tornei indivíduo assim que me percebi como um, aquela cabeça que irrompeu no mundo e hoje tem pernas, boca e mente. E neste instante em que respiro, já construo meu alicerce. Cada passo, mínimo que seja, já é um tijolo a mais para a vida. Estou em constante criação, influência e reação. Não há esboço para além de mim: me prolongo na estrada segundo o que penso, sinto e quero. Eu sou meu próprio rascunho, e tentativa infinita de chegar em qualquer lugar.
Acho que isso se chama, o que se pode dizer, de pedaço de maturidade!

Espesso das ideias

As engrenagens, fulminantes, se acionam através da inspiração. Do vapor olímpico, roldanas giram, e tilintam no cérebro. É o processo da criação, maquinaria espetacular capaz de produzir e expelir o intragável da sociedade. Só assim se faz arte, só assim se faz política, só assim se faz física. Só assim lapidamos o fermento grosso mental, até que surja impávida ideia, cujo sopro areja os olhos, ou cega os mesmos.
Castanhos ou irritados: ou se abrem como flor, ou transformam-se em espinhos para-o-outro.
Obviamente, recrudescemos nas antigas opiniões. E por mais belo que este texto seja, continuamos atolados na velha aparência e nos velhos argumentos.
Ao menos aqui foi feita minha tentativa de distrair o touro estúpido e teimoso, afogado no espesso das ideias: este texto é uma borboleta rosa que paira tranquilamente em sua frente, mostrando a leveza da dúvida, a única que sobrevive e sobreviverá, durante o tempo em que houver ar para respirar e perguntar: "Será?".

Silêncio

Dificilmente escrevo algo aqui, porque temo expor opiniões, seja lá por insegurança, seja lá por medo. De qualquer forma, são genuínas as palavras que saem, força independente em se mostrar ao mundo. O meu desejo é simples e reto: silêncio, muito silêncio. Minha mãe vive cantando "tempo de silêncio e solidão", síntese do desenrolar de vários fatos.
E o fato principal é que não encontro saída para qualquer parte, onde a opinião me custa não só palavras, mas um lançar-me a uma esfera de pensamento que por fim, é apenas mais uma dentro de setores, gamas e diferenciações próprias da subjetividade de nossos valores. Então, olho esta infinidade e renuncio, desistente de empunhar certezas. Tudo é por demais complexo, e alimento a esperança de encontrar razões neste tudo: em quem morre, em quem mata. É cruel, de fato. Ser compreensivo a todo momento, pra tudo o que existe, cansa.
Mas o que fazer? Ignorar o campo da subjetividade e dizer logo o que pensa sem rodeios? Pode ser, mas não é esta abordagem que quis inicialmente dar ao texto. Quis mesmo expressar o desejo de silêncio, ultra silêncio, apenas cerrar os olhos e parar de pensar, pra que o mundo se faça pequeno, e eu deixe a abrangência. Quando as coisas se tornam demais, é porque estamos cegos para os detalhes, como o nome do vizinho, a comida que faz mal e a necessidade de dormir bem.

Inspiração

Existe um sentimento de impotência em mim. Quando estou quase dormindo, naquele período que fica entre a realidade e o sonho, diversas músicas surgem e ecoam em minha mente. O interessante é que são harmonias compostas por mim na hora, e sem intervenção consciente. Ou seja: inspiração mesmo.
Semana passada, por exemplo, surgiu o Hino à Alegria, de Beethoven, mas tocada em um viola caipira. Uma vez, o que apareceu foi uma ópera fascinante. E também um sertanejo universitário, assim como poesias, riffs de heavy metal e um reggae.
Só que hoje, algo maior aconteceu. Enquanto meditava, o mantra Hare Krishna começou a "tocar" em minha mente. Coisa simples, dois acordes. Só que de forma extraordinária, toda uma orquestra surgiu! E mais ainda: eu escolhia o instrumento a ser tocado, e criava mentalmente a linha melódica.
Abusei de tambores, caixas, violinos, de um piano, uma harpa, uma soprano, um barítono — enfim, descreveria mais outros 4 instrumentos, mas como meu conhecimento de música clássica é mínimo, não sei o nome deles. Só sei que lembrava do timbre, e o fazia soar em minha mente, unido a outros timbres ou não.
Foi um estouro. Me emocionei, de tão lindo que o mantra ficou.
Agora, o sentimento de impotência fica: como vou mostrar isto ao mundo? Um dia terei acesso a tantos instrumentos? E como explicar o que está aqui dentro se não sei escrever partitura?
Angústia, gente, angústia...

Pergunta

O final do destino é sempre onde já estamos?

O Louco

Que vontade que eu tenho de ficar nu para a eternidade, e mostrar aos vigias que me perscrutam, sanção e punição, o quão limpo, claro e vivo estou. Não há formas escorregadias nas palavras, nem o medo de dizê-las, pois o que é essencial feito mármore, cru como a beleza pura, e permitido em todas as formas possíveis, consta aberto no meu peito e no meu corpo. Estou nu, senhoras e senhores, feito louco de pedra e criança selvagem. Nu, nem de botas, nem com a mão no bolso: oceânica nudez, repleta de monstros e maravilhas. Mas nesta Atlântida, não há conquistadores ou desbravadores. O mar é por si só seu próprio dono, ora besta loura, ora equilíbrio chinês.
Ah, a extensão! Contorno meu corpo com a matéria que ocupa espaço. Superfície infinita, de novo, meu eu é nu.
Tracejar-me é impossível; nem mesmo delimitar o oceano é tarefa realizável. Estou onde sou, e ele é onde está. Estou tudo, ele é tudo.
Afinal, somos tão enormes que os vigilantes se perderam. Sem desbravadores, sem instituições. Estou nu, pelado, e ao vento.

Morte

Sou muito apressado. Senão isto, estão prevenido. Desde que descobri a morte, venho me preparando pra quando ela acontecer — tanto a minha quanto a de pessoas que amo.
Não vejo nada de macabro nisto. Não te parece que fugir desesperadamente da morte é esquecer da própria — e curtíssima — existência?
Então vê-la, entendê-la (da própria forma, isto é, com suas próprias palavras e sentimentos), senti-la; tudo isto é uma grande de chance de lembrar que nossa consciência um dia desaparecerá.
Das minhas vivências, posso relatar minha proximidade com os cemitérios. Matava aulas e aulas pra ficar lá, arrumando os vasos de flores caídos sobre as tumbas, lendo alguns livros, conversando (mais numa espécie de monólogo, graças a Deus!) com os falecidos, me perguntando se gostaram de viver; uma vez dormi por uns 30 minutos em um banco de um cemitério, e sem querer (caí no sono).
Já também vivi alguns dias imaginando que realmente eram os últimos. Liguei pra algumas pessoas da minha família e agradeci por eles estarem comigo e serem parte do que me estrutura enquanto indivíduo. À noite, falei com as estrelas e também agradeci à lua. Eu nunca dormi com tanto medo de realmente não acordar!
Outra experiência foi bandejar imaginando que, assim que eu saísse da porta do bandeco, eu morreria. É incrível como vivi enquanto dava as últimas garfadas e conversava animadamente com diferentes pessoas.
Tudo isto porque ela me fascina. E quanto maior o fascínio despertado, maior a distância que quero dela.
Quem sabe a morte não é um amor platônico? Idealizado, misterioso e que no momento, não me desperta interesse para realizá-lo, porque as coisas estão incompatíveis.
E minha pergunta fica: um dia seremos compatíveis um com o outro?
É o que tento fazer. O fato, bizarro ou não, é que quanto maior o preparo, maior o meu amor pela existência.
Raul fala bem por mim:

"E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte"

Sonho

Dormi sonhando que estava acordado. Acordei de verdade. De repente, estou mega cansado, fraco e sem condições de levantar da cama. Faço um esforço, e consigo. No momento que consigo me levantar me dou conta de que o sonho que tive, pensando ser real, era - adivinha - só um sonho.
Fico aliviado, porque passou. Então de repente percebo que não levantei coisa nenhuma, ainda estou imóvel na cama. O despertar foi uma ilusão (outro sonho). Em desespero, vejo meu amigo falar: "tô preocupado com você. Seus olhos estão vermelhos e semi-cerrados".
Preciso levantar da cama, mas não consigo! Observo o porquê: meu corpo não responde a minha mente. Então busco aliar os dois, respirando lentamente. Pouco a pouco, a respiração se torna mais profunda, e me conecto com todo o corpo. Faço força e acordo.
Olho para o chão e pulo para verificar se estou dormindo ou estou acordado. Fico tonto porque pular de verdade é diferente de pular num sonho (a sensação é real). Concluo estar acordado.
Então retorno novamente ao meu corpo, que na realidade está parado. Percebi que me enganei, aquilo era um outro sonho também.
Volto a respirar calmamente até que no momento certo, me impulsiono para levantar da cama. E agora estou aqui, contando pra vocês o meu medo de nunca mais acordar.
Basicamente, o que ocorreu foi o seguinte: sonhei que sonhei que sonhei (que estava acordado). São quatro realidades, onde acordei três vezes (da quarta para a terceira, da terceira para a segunda, e da segunda para primeira, esta aqui).
Eu tô quase indo pra quinta realidade, e morrendo de medo de nunca mais voltar dela. Paralisia do Sono, socorro.

Mito e Ciência

Há quem esteja dentro, e há quem esteja fora. A fé está por dentro, a razão está por fora.
Quem está dentro, quer tudo englobar. Quem está fora, quer tudo dissecar.
Quem está fora não consegue estar dentro, porque não compreende o ato. Quem está dentro se recusa a estar fora, porque morre um pouco.
Quem está fora reclama de ilusão. Quem está dentro não tem palavras.
Quem está fora quer a realidade. Quem está dentro, também.
Uma disputa de séculos, e acho que resumi bem.
Tô sentindo uma preocupação imensa... Uma solidão, ansiedade, medo... Tudo junto. É porque tem algum lugar dentro de mim, alguma forma de enxergar a realidade, alguma forma de pensar/sentir/existir que não consigo expressar em palavras. Simplesmente não consigo dizer o que acontece quando vou pra este lugar e faço o que faço.
Posso dizer que é fascinante, misterioso, mágico. A verdadera resposta para todas as perguntas (que é exatamente a não-resposta); a verdadeira solução pra tudo, que é o não-fazer, porque não há problema. Quando vou pra lá, somem as palavras. Somem os pensamentos. Eu sou guiado e me guio segundo tudo e nada.
Perguntar não faz sentido, tentar responder é fazer morrer o momento.
E o mundo vira um só. Eu sou tudo, tudo é nada. Paradoxal, contraditório, tanto faz...
Esta impossibilidade de dizer o que acontece me amedronta demais. Preciso urgentemente de alguém que entenda meu silêncio, entenda meu olhar, meu jeito de andar. Alguém que por favor, se jogue nos mistérios e não tenha medo de não fazer sentido. Alguém que esqueça o modo de pensar cotidiano, tão óbvio, lógico, linear.
Que medo que sinto desta solidão... Que medo. Espero que alguém exista comigo neste mundo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

But look at my face, ain't this smile?

Viver... segredo. Um mistério é o que concedo a cada uma das minhas amigas e amigos. Silêncio sobre o sabor da pétala e da pimenta, para que não se esvaia a fluidez e a mastigação. Falar mata, perde saliva. Falar corta, despedaça. Sentir e não dizer perpetua o prazer. The lost art of keeping a secret.
I tell you something, folks. Life has been a complete tragedy, in its worst way. But look at my face, ain't this smile? A single mark of taste overruns these lips, that now, try to forget what I shouldn't have heard. Funny, uh? I've learned all this time to be patient, calm and receptive to other's points of view. But now, all I want is to rip off the opinions of those who REALLY DON'T SPEAK my language. Therefore, closing my eyes and making jokes about their incompetence in existing is being so far what I most need: distance, goddamn-sacred distance.
But what have I done in all this months that it's a secret and I can not tell? If I told you, I'd die, and that's not an expression, nor an exageration. I'd die again, trust me. So, with a kiss of mistery, I say bye to the deaf ears. Blind people is no more my will. And all that is said in this text is too much.
Bye.
Que ódio. Seguro nos braços, dentro de mim, além de qualquer chance de contato, um grito permanente. Ecoa na gruta da identidade, suburbana, fechada em um coletivo de submundo. Pergunto sempre, sempre, sempre. Quando será a época de explodir? Quando haverá oportunidade, chamado o momento de aflorar e dizer pra mim mesmo que a chama da diferença, o eclodir da individualidade, a bravura da flor que se abre para o mundo pode finalmente nascer?
Ainda não, nunca virá data. Cotidianamente a morte se esgueira sobre a cama, e ainda de manhã arrasta seu cajado sobre meus ossos, para me oferecer poção e consequência de sua aparição. Preso nas paredes do entardecer, nas amarras da burocracia, na culpa de não ser os meus superiores, engulo a bebida que me dá. Então o nada me engole.
E quando devora, não deixa rastros. Afinal, se fosse algo para deixar rastros, não seria nada. Torna-se verdade que o absurdo de viver é o nada. Os valores, decaídos, mascam a certeza de perpetuar a vida. Qualquer esperança, sinal, torre, bússola, bandeira sofre a morte instantânea. Afinal, dos devaneios possíveis, não há maior do que viver para algo. Vive-se, morre-se, e pronto. O fim como certeza é a determinação de quem já está morto.
Assim se faz a vida: com o cordão dado, alinhado e rompido. cremos porque queremos crer em qualquer destino. O que nos resta, senão a arrogância de resistir à falsidade e encarar o deserto árido do vazio? O trajeto percorre assim: olhos abertos, focados no nada, libido escassa por ódio à vida, vestes feitas pela mão do azar em pessoa: as coincidências que me fizeram irromper neste mundo.
Mas algo me chama na distância da irracionalidade, um recanto proibido, onde força nenhuma das palavras adentra. Aqui, algo está vivo ainda. Qualquer coisa que seja, um bebê, a última inspiração da atriz... Algo que diz: se o destino é criação do ser humano, então a falta de sentido nele nada mais é do que a própria vontade de nada haver no mundo. Uns colorem, pintam, fazem esculturas, e outros destroem. Seu papel na vida é recortar o próprio papel, demolir a arena, afugentar o teatro inteiro. Só assim se fazem vivos: supondo o nada em tudo.
"Quanta bobagem", continua esperança, sempre pequena, "pensar que a realidade é impenetrável ou simplesmente caótica. Quem o faz não enxerga a ordem por trás das coisas".
Eu grito, entre a armadura e a espada: "Não há metafísica, não há sentido, não há o que quer que seja! Por que teimar em significar cada coisa existente se no fundo, não há fundo? A pedra, o nascer, a morte, a árvore, a reação química e nós, animais tão mais insignificantes quanto o que criamos".
E é isto. Não há nada após o ponto final do livro. O nada, absoluto nada. É isto.
Entretanto, esperança me chama... E diz que a vida não deve ser obrigação. Mais ainda, ri da minha estúpida consideração sobre cada coisa.
"Como é possível que nós inventamos o sentido? Deus nunca foi inventado. Deus foi visto e lhe deram alguns nomes, imagens e definições. O mesmo acerca de anjos, demônios, espíritos... Nada está morto e nunca foi criado. Simplesmente vemos todas as coisas acontecendo e lhe damos nomes diferentes."
"Mas a realidade é uma só."
"E qual é?"
"Não há nada fora que se chame Deus. Tudo isto está dentro da imaginação e da ilusão. Só o que nos resta são corpos, hormônios, fome e um dia este Sol que explodirá para demonstrar a insignificância do universo."
"Sujeito encastelado você... Por que não seria Deus a razão de você ter nascido, ao mesmo tempo que toda história do óvulo é real?"
"Que seja. Mas então que crédito Deus levaria se sua aparição é tão importante quanto a de um repolho ou uma cegonha? Qual a diferença entre as três coisas?"
"Nenhuma. Entretanto, a experiência vale o dobro de qualquer coisa. Qual experiência temos do nascimento e da morte? Como as coisas se revelam para nós? Qual forma damos aos fenômeno? Que fazemos daquilo que acontece?"
"Tanto faz... A experiência é algo à parte. Já a coisa em si rejeita mais colorações e significações. Morte é o fim. Não há o que fantasiar."
"Como você pode diferenciar realidade de experiência? Já te disse: ver a falta de sentido é criá-la em tudo que se vê. Ninguém foge de si mesmo."
E eu rezo pra que tudo seja experiência. Do contrário, fixado na brutalidade das supostas "coisas como são". perderei a alma, Deus, destino, congregação. Me verei isolado e sem nome, como coisa que sofre por alguns anos e morre, E me parece que a verdadeira morte não ocorre aí, no acidente de estrada, mas antes, na crença absoluta de que não há nada, apenas dor e sofrimento, apenas areia e pó, os restos de uma única realidade amorfa e insensível.
Diante deste devenir desdenhoso, suspiro eu, abocanhando as migalhas de que talvez o universo seja Deus, de que dentro do mar há centenas de sereias, de que um diabo se esconde atrás da porta, de que um dia eu realmente falei com a Lua, e não foi devaneio.
(De que eu realmente falei com a Lua, e não foi devaneio).