Que vontade que eu tenho de ficar nu para a eternidade, e mostrar aos
vigias que me perscrutam, sanção e punição, o quão limpo, claro e vivo
estou. Não há formas escorregadias nas palavras, nem o medo de dizê-las,
pois o que é essencial feito mármore, cru como a beleza pura, e
permitido em todas as formas possíveis, consta aberto no meu peito e no
meu corpo. Estou nu, senhoras e senhores, feito louco de pedra e criança
selvagem. Nu, nem de botas, nem com a mão no bolso: oceânica
nudez, repleta de monstros e maravilhas. Mas nesta Atlântida, não há
conquistadores ou desbravadores. O mar é por si só seu próprio dono, ora
besta loura, ora equilíbrio chinês.
Ah, a extensão! Contorno meu corpo com a matéria que ocupa espaço. Superfície infinita, de novo, meu eu é nu.
Tracejar-me é impossível; nem mesmo delimitar o oceano é tarefa
realizável. Estou onde sou, e ele é onde está. Estou tudo, ele é tudo.
Afinal, somos tão enormes que os vigilantes se perderam. Sem desbravadores, sem instituições. Estou nu, pelado, e ao vento.
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