quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Tagarelice

Ninguém escreve quando feliz, porque as palavras pesam no sorriso da gente.
O gozado é que quando estamos tristes, elas aliviam toneladas de aflição.
Palavra pode ser pena e pode ser peso, então.
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Já fiquei cinco dias sem falar coisa alguma. Foi engraçado, porque quando eu pedia informação (escrevendo num papelzinho), as pessoas quase que gritavam. Gesticulavam loucamente, e tratavam de explicar o caminho da rua x didaticamente. Algumas olhavam com surpresa; outras, o que parecia ser dó.
Meu objetivo era ficar uma semana assim, mas de repente um professor de literatura norte-americano me parou na rua, pedindo ajuda, dizendo que precisava de dinheiro porque estava com fome.
Como diabos eu poderia ter ficado quieto?
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Também já fiquei horas sem abrir os olhos. Saí pra ver uma menina, e nosso combinado era que ela me guiasse pelo braço durante todo o encontro.
Fascinante! Minha audição se desenvolveu muito; meu tato teve sensível melhora.
Mas a menina era diabólica. Uma hora começou a falar inglês comigo. Eu respondia da mesma forma, achando a situação engraçada. Andamos por uns 20 minutos assim, e eu rindo dela imitando o sotaque das meninas patricinhas dos EUA.
Uma hora alguém chegou perto de nós e disse:
— Vocês não podem ficar aqui. Isto é uma excursão própria para quem pagou.
Ela havia me colocado no meio de uns gringos que faziam uma excursão pela Avenida Paulista, e eu nem desconfiei de nada!
Saudade desta moça.
Aiai, moças.
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Só me refiro a uma coisa com estes textos: expressão humana.
Como se conectar ao mundo, sem ser através dos meios comuns? Por que temos de falar tanto e tanto dizer o que nem importa?
Queria um mundo onde eu não precisasse dizer "oi" e nem "tudo bem", pois tudo estaria implícito no meu cabelo, olhar e andar.
Às vezes detesto falar, pois perco o ouro intocável aqui de dentro. Tenho que achar as palavras, juntá-las, entonar a voz, e parecer que elas são importantes...
Diante disso, fujo. Aqui dentro tudo está mais aquecido e claro. Lá fora, o esforço é tanto e trabalhoso, que fechar os lábios vale mais a pena.
Além do mais, as palavras custam em achar ouvido que preste. Todos estão tão sintonizados com a própria frequência que tem dificuldade em mudar de estação.
Agora, pior que isso, só as bocas ansiosas, que parecem galinhas desastradas.
Dá pra sair do galinheiro e olhar o mundo lá fora?
Só cocoreja: eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu.
Hoje fujo — quando dá.
Mas tá bom de texto, que por hoje eu já falei demais, credo.

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