quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Morte

Sou muito apressado. Senão isto, estão prevenido. Desde que descobri a morte, venho me preparando pra quando ela acontecer — tanto a minha quanto a de pessoas que amo.
Não vejo nada de macabro nisto. Não te parece que fugir desesperadamente da morte é esquecer da própria — e curtíssima — existência?
Então vê-la, entendê-la (da própria forma, isto é, com suas próprias palavras e sentimentos), senti-la; tudo isto é uma grande de chance de lembrar que nossa consciência um dia desaparecerá.
Das minhas vivências, posso relatar minha proximidade com os cemitérios. Matava aulas e aulas pra ficar lá, arrumando os vasos de flores caídos sobre as tumbas, lendo alguns livros, conversando (mais numa espécie de monólogo, graças a Deus!) com os falecidos, me perguntando se gostaram de viver; uma vez dormi por uns 30 minutos em um banco de um cemitério, e sem querer (caí no sono).
Já também vivi alguns dias imaginando que realmente eram os últimos. Liguei pra algumas pessoas da minha família e agradeci por eles estarem comigo e serem parte do que me estrutura enquanto indivíduo. À noite, falei com as estrelas e também agradeci à lua. Eu nunca dormi com tanto medo de realmente não acordar!
Outra experiência foi bandejar imaginando que, assim que eu saísse da porta do bandeco, eu morreria. É incrível como vivi enquanto dava as últimas garfadas e conversava animadamente com diferentes pessoas.
Tudo isto porque ela me fascina. E quanto maior o fascínio despertado, maior a distância que quero dela.
Quem sabe a morte não é um amor platônico? Idealizado, misterioso e que no momento, não me desperta interesse para realizá-lo, porque as coisas estão incompatíveis.
E minha pergunta fica: um dia seremos compatíveis um com o outro?
É o que tento fazer. O fato, bizarro ou não, é que quanto maior o preparo, maior o meu amor pela existência.
Raul fala bem por mim:

"E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte"

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