sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A Volta Daquela Coisa Horrível

De novo bateu o medo da loucura. Tenho muito medo disto: entrar na insanidade a-filosófica, utilizando termos meus para significá-los de acordo com coisas minhas, que em suma, são incompreensíveis à sociedade.
Todas as pessoas têm um pouco de loucura, eu sei. Mas a temo de forma patológica, porquanto minha mãe, meu tio e meu pai já entraram nesta onda psico patogênica, sabe? Pra ir pra depressão, pra psicose ou bipolaridade eu estou próximo, próximo...
Este medo requer maiores aprofundações, e uma análise mais completa da coisa. Mas como o tempo é curto (o laboratório vai fechar), vou resumir a história toda.
O que ocorre é o seguinte: tenho uma capacidade de auto-questionamento imenso. Não creio que todos as pessoas sejam assim, porque a) não nos ensinam a questionar a nós mesmos, e porque b) o sofrimento é visto como algo que passa.
Do meu lado, sempre, sempre! avaliei cautelosamente aspectos meus, beirando até questões do meta-pensamento (?), i.e., e se eu penso assim porque o pensamento funciona deste modo (como quando por exemplo, suponho a noção de causalidade. Será que realmente há causa para o que sinto? E se a causa é apenas um aspecto como a consciência interpreta dois ou mais eventos?). Outras vezes, pergunto-me se penso desta maneira por conta da linguagem - o diálogo interno é feito de uma ou duas pessoas? Você, quando fala sozinho, está se dirigindo a alguém; mas e se este alguém é você, são duas ou uma pessoa no total?
Além do mais, me esforço para ir até os confins: o quanto de mim é a sociedade, o quanto de mim sou eu mesmo? Faço filosofia porque minha mãe, meu tio e os livros que li falando sobre ela me atraíram a atenção, ou porque faz parte de alguma componente neuroquímico em mim que está obcecado em encontrar princípios e padrões nas coisas?
(Adendo: me questiono se faço filosofia também por um simples erro, que é confundir "gostar de conhecer" com "gostar do conhecimento proposto pela filosofia", de forma análoga a alguém que faz educação física porque gosta de esportes, sacou?).
E por aí vai. Não paro quieto um segundo, buscando origem de tudo. Quanto ao b) o sofrimento é visto como algo que passa, eu não lido com a dor desta maneira.
Não é algo que passa e acabou. Se alguém critica minha performance no violão e minha auto-estima cai, me aprofundo nas raízes desta dor. Será que ponho a razão para viver na música e a simples crítica já rui toda minha fé em querer viver? (porque realmente eu vivo por fé em viver. Não há motivo objetivo). Ou será que cresci em ambiente onde tudo era pessoal de mais, e portanto, nasci em uma caixa de algodões?
De conflito em conflito, minha cabeça aumenta as proporções do questionamento. Hoje, estou vivendo um drama (entre outros) que se configura como logos x mythos. Razão ou mito? Como tomar minhas atitudes? Baseadas no quê?
Como buscar a verdade de maneira desinteressada sem me basear nelas para viver? Porque se me baseio em alguma verdade, a crítica que a demole faz demolir minha crença sobre a coisa, e então, tenho dificuldades em viver (me falta a tal da fé),
Mas o texto foca no medo da loucura. Eu quis contextualizar o modo como a enxergo: me perder no meu mundo, só isto. São tantas os conflitos, tantos os questionamentos, que ás vezes me foge sabe o quê? Uma unidade, algo como um eu, um Marcos. Eu desfragmento esta coisa chamada Marcos, justamente porque me pergunto sobre tudo! O que sou eu? Existe "eu"? O que significa eu? O Marcos é a voz que fala e que escreve, o que é visto nas festas, o quê?
Eu crio personagens pra bastante coisa. Porque vejo diferentes formas de enxergar uma única coisa.
Exemplo: o acaso. Um lado diz que o acaso é um evento independente, sem qualquer fim. Este lado é a razão, que carinhosamente a apelidei de Altamiro Loremir. Seu objetivo: explicar através da razão os motivos pelos quais as coisas acontecem, diferente do Raimundo Salazar, que observa o acaso como alguma confluência magnifica do universo e do cosmo.
Por isto sou bomba e atrito. Altamiro berra com Raimundo, Raimundo sofre escondido. Em seguida, é Raimundo que berra com Altamiro, mas em desvantagem, porque para se defender, ele deve usar a razão, e nesta história toda... bom, ele se perde.
Sinceramente, sou muito Raimundo. Mas devo confessar que às vezes sinto cansaço e irritação quando leio algum texto que diz sobre "ondas eletromagnéticas e vibrações que irradiam do perispírito etc etc etc". Sabe, estas viagens? Cinestesia, radiestesia, blá blá blá.
E pouco a pouco, vou descobrindo as outras personalidades. Diferentes vozes que cobram de mim coisas que não quero fazer.
Importante: digo "vozes", mas sei que elas são ditas por mim. Os tais dos personagens não são nada mais do que meios pelos quais eu expresso meu próprio policiamento.
Enfim, são seis vozes (já contei), no total. Mas uma já foi desconstruída. Aquela que me obrigava a ler e ser inteligente praticamente ruiu.
Um dos meus objetivos é desconstruir cada uma delas, ou levar só o que há de importante em cada uma, para que eu possa entrar em contato com toda individualidade em mim. O objetivo, afinal, é sé rebelar contra o sistema.
Aí que as coisas complicam. Muito.
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Outra coisa: o medo vem, mas passa. Porque entendo que na realidade, sou é muito lúcido de tudo que ocorre comigo. Esta clareza é que é assustadora, mas não beira a loucura. Consigo conversar, entendo as convenções sociais, expresso minhas ideias tranquilamente e olha só: adoro falar besteira.
O pânico vem somente quando desafio tudo, tudo o que há de mais comum. Mas... Ney Matogrosso, ouvi dizer, também ficava com medo. E ia em frente, desafiava a forma centrada que a sociedade enxerga as coisas: um eu, um sentimento, uma forma, ou x, ou y.
Então basicamente vou falar o seguinte: um grandessíssimo foda-se pra aqueles que não me entendem. As pessoas mais próximas de mim são capazes de compreender toda a profundidade do ser humano, e enquanto eu conseguir explicar as coisas, me sentirei tranquilo. Eu apenas vejo o que as pessoas às vezes não vêem, porque se trancaram no obvio.
Respondendo a uma menina que me disse: "eu gostaria de fazer psicologia só pra entender a cabeça deste moleque". Eu sou igual, só que penso muito. E eu penso parado, com os olhos fixos no nada, o que faz parecer que é algo esquisito, mas na real, não. Você gosta de pensar fumando, escutando música ou escrevendo; eu curto fazer isto sozinho e no silêncio, andando pra lá e pra cá, concentrado em coisas minhas. Nada demais.
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Concluindo o texto, quero dizer que não, não sou louco. Sou é claro pra cacete com todas as coisas, e investigo tudo, do mais obvio ao mais bizarro  E de vez em quando chego em conclusões absurdas, mas que só quando enunciadas sem contexto soam assim (tipo dizer que eu não existo. Sim, tem como esta frase soar não-esquisita-maluca-lunática.
Que O Louco viva sua vida!


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