terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Desejos

Fui viajar pra uma cidade do interior e fiquei com minha família num hotel fazenda. Tirolesa, arvorismo, cachoeiras, gente falando "porrta" etc.
Senti aquela coisa de sempre, Uma dor absurda no peito. Parece facada... ou melhor: uma gota pesada que se segura no corpo e não cai. Fica lá, se enchendo, engradecendo, doendo. Conforme se expande, o humor fica azul, as bordas da visão ficam azuis. Tudo fica triste, pesado, solitário.
Solitário... Ontem, enquanto pensava sobre tudo que está em meu alance, concluí que não tenho lar. Casa, sim. Família, sim. Mas lar... não. O lugar tranquilo pra se acalmar não existe. A cabeça do urubu é um inferno.
Uma vez li (e ri) que onde o Mr. Catra toca, vira filho. Onde eu toco, vira conflito. Tudo é margem pra conflito. Impossível aceitar calmamente "as coisas como elas são".
É a solidão que não aguento mais, esta falta de lar, falta de descanso. Sentia estas coisas lá no hotel fazenda, com o mal de não chorar, porque não dá vontade de chorar. Dá vontade de... me matar, porque não parece haver solução...
... embora eu sei qual é. São várias, na realidade. O Tempo, tempo rei, é um deles. Dar tempo ao tempo, ser menos ansioso, perceber que a dor passa e o meu futuro, grandioso e esperado futuro, virá. Bastá eu trabalhar com calma e afinco para que eu realize meus objetivos. Outra solução é o pensar positivo (pasmem!).
Claro que sempre fui o cara que odeia auto-ajuda, odeia as frases de efeito e os discursos motivacionais. Até o dia (lá no hotel fazenda) que eu estourei os limites. No me soporto más. El pesimismo me mata.
Chegou uma hora que o glamour de ser irônico e ver o lado desgraçado das coisas perdeu a graça... Nunca ver o lado positivo das coisas me fez tão bem, acredite. E aprendi algo tão interessante: quanto maior a tragédia, mais espiritual será o "lado bom". Espiritual; uso esta palavra porque o que é retirado de forma positiva é tão grandioso e sábio, que me parece algo espiritual. Não tô afim de citar o que é trágico pra dar exemplos desta espiritualidade. Por favor, faça isto você.
A cabeça fica mais calma quando olho pro lado bom, Isto é de grande ajuda quando esto dentro de mais um conflito.
Outra "solução" é a diversão e sinceridade. A primeira porque eu realmente necessito e de maneira urgente e pra ontem, rir. Rir, por favor militância, me deixa rir. Tá tudo muito azedo pra eu me policiar mais ainda do que o normal. Já a sinceridade... ela vem da aceitação.
Sendo sincero... eu quero fugir da política. Me deixa em paz, movimentos sociais. Eu não aguento mais tanta gente berrando. tanta mordacidade, tanto palavrão, tanto ódio. Por favor, me deixem de fora desta. Comunicação Não-Violenta... até com você eu tenho conflitos. Vou me afastar de você, ok? E há as pessoas que eu admiro - na realidade, eu sinto ódio por tudo que fazem.
Isto demanda mais explicações... entretanto, quero resumir. Há pessoas que agem de determinada maneira. Eu acho lindo e penso que este é o ideal. Eu, não sendo o ideal, ou odeio eles (a tal da inveja) ou me odeio (a tal da auto-estima baixa/auto-destruição).
Por favor, saiam da minha vida, saiam todos.
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Tá, pausa, porque uma coisa maluca aconteceu agora mesmo. De repente me levantei pra pegar comida, fazer meu prato. Daí comecei a pensar sobre as coisas que acabei de escrever e subiu em mim uma raiva e uma tristeza muito grande pelas coisas acima citadas (solidão, raiva de muita gente, conflitos com a Comunicação Não-Violenta, militância).
E veio com tanta intensidade, que passou todo o sentimento de tristeza e incompatibilidade. Vomitei emocionalmente a dor, e ela passou. Assim mesmo, num passe de mágica. Daí, passei a gostar da CNV, da militância e das pessoas que eu odiara.
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Como um corpo podem funcionar desta maneira?
Isto me lembra uma vez que eu tava com meu amigo, em uma casa lá do interior. Conversávamos, mas eu não me sentia nem um pouco bem. A culpa corroía meu estômago (havia beijado outra pessoa enquanto me relacionava monogamicamente com outra). Então eu parei, segurei a cabeça pra dentro do corpo e fechei os olhos. Sentia muita culpa, era horrível, queria me jogar de um princípio. Ela esmagava os ossos de tanta dor. Jesus, foi horrível.
E então... passou! Assim mesmo, em questão de segundos. Meu amigo olhou pra mim: "Passou? Como assim?". Não pude responder. Foi isso, passou a culpa, eu estava bem.
Mais ou menos isto que aconteceu agora.
Eu sei que a culpa passa quando a gente aceita o outro lado nosso. Provavelmente foi isto que aconteceu agora: aceitei magicamente muita coisa em mim. Bizarro.
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O texto falava sobre as soluções para o sofrimento. Acabei de entender outra importantíssima: expressão artística.
Segredo: adoro fazer coreografias no banheiro. Fico inventando um monte. Em cima de músicas do Michael Jackson, do Avenged Sevenfold, Ritmo Ragatanga, etc. Me sinto tão bem depois de ficar quase duas horas dançando loucamente...
E por que o texto se chama "desejos"?
Oras, porque é bom desejar coisas, não? Todo mundo faz isto. Esta frase não é um bom argumento, mas mostra como há em nós a vontade de que coisas boas aconteçam. Sendo assim, fiz uma brincadeira comigo mesmo.
Imaginei que encontrei uma lâmpada mágica. A esfreguei, e de lá, surgiu um gênio. Três pedidos, etc.
Aqui está a graça do negócio: deve-se responder o que quer, entretanto, não busque a coisa em si, mas a coisa mais ampla por trás dela. E também diga o seu desejo de maneira prática.
"Quero paz mundial", isto é pouco prático. Seja prático e mais específico.
"Quero que as pessoas tolerem umas as outras". Pouco claro.
"Quero que todos tenham o direito de fazer o que querem". Pouco claro, ser!
"Desejo eu mesmo aprender a conviver com as diferenças e buscar modos de abrir canais de comunicação entre as pessoas, com o auxílio da filosofia/biologia/sociologia/arte/sei lá o que". Aí sim! Este é o ponto. Tem que ser claro, específico e prático.
Os meus três desejos foram estes:
1 - Amar eroticamente muita gente, beijar demais, fazer sexo toda hora, recitar poesias românticas, me apaixonar. Fazer carinho demais.
2 - Me expressar com a dança e a música. Tô louco pra aprender dança do ventre. E aprender a dançar rockabilly direito. Fazer música, me apresentar em palcos, ficar nu enquanto canto e me lambuzo com a lua. Eita.
3 - Tranquilidade, tempo e amizade. Sei que parecem coisas diferentes, mas tá tudo junto. Tranquilidade pra tomar decisões, tempo pra fazer o que quero com tranquilidade, e amigos pra ficar tranquilo. Também tempo pra ficar com meus amigos, e amigos para ajudar a tomar decisões.
2016 e hoje seja com mais estas coisas que... me fazem querer viver.
Tchau.


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