segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Σιγά σιγά (sigá sigá).

Meu nome é Cláudio. Trabalho nesta empresa há 23 anos, e desisti da vida solar. O sol, seja Hélio ou nitrogênio, seja magnífico ou apenas mais uma estrela fria dentro de outras coisas frias no universo, estourou as bolhas de minha paciência. Por este claríssimo e simples motivo, abandonei minha vida amarela em face deste gigante ardente.
A empresa se chama Persona, e seu negócio são os cosméticos, os quais se responsabilizam a enfeitiçar olhares desta minha gente. Tal feitiçaria é às vezes um mistério, porquanto não se sabe o motivo do maquilamento, se é para arredondar, purificar e expressar a lágrima, ou se gira em torno de esconder a própria vacuidade.
Infelizmente, o segundo motivo é mais presente nas esteiras do cotidiano. Por isso, abandonando a vida solar e como contravenção, decidi descer enquanto os outros sobem, para ir em direção à tranquilidade.
Repito: desisti da vida solar. Queimaduras na pele, irritações constantes, palavras e passarinhos. Quero matar os passarinhos, calar as vozes, deslizar nos braços de algum amor quieto. Não posso beliscar paixão alguma se minha cabeça não estiver dedilhando o silêncio.
Instrumento querido, fala sem abrir a boca, canta sem mover os lábios. E vamos convivendo assim, eu, ele, e a lua.
O sol, pelo contrário, me empurra. "Anda, troça! Vai, que o tempo, enquanto o digo, já foi. E irá minguar-se a cada palavra nova! Labuta, ser!". Ah... A situação é simples. Pessoas querem ir para cima, sardinhas para o meio, e o sol, alimentar o câncer em mim.
Agora olha a lua... Olha o silêncio... Olha, olha a calma. Observa as águas do Pacífico. A lua nada quer, e nada pode querer, onde jaz aqui sua preciosidade: mover-se pelo vento. Não irradia por si só, como o sol, este senhor intrometido, Vossa Excelência do pé de ouro, que fede à altivez. A água é cheia por si só; o sol, cheio de si. São contrariedades tais que encantam a lentidão de quem não quer ser empurrado, nem quer brilhar, nem correr. Sigá sigá, pouco a pouco, lentidão que esqueci, ao obcecar-me pelo brilho do rei. Hoje, vejo que isto é balela: quem se encanta com o brilho dos outros, esqueceu do seu.
Pois então, resplandeço sim, só que no tempo que o tempo tem. E qual o tempo que o tempo tem? Ora, o tempo tem o tempo que o tempo tem! Tempo para dar e vender. Tempo que faz germinar. Já diria algum sábio: não berre com a planta, ela não te obedece.
E assim desfaço as queimaduras, aguardando no choro e na alegria, tudo que a lua e a água me oferecem: descanso para o choro e, finalmente, descanso para a alegria.


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