sábado, 19 de dezembro de 2015

Suicídio!

Não escreveria aqui caso, mais uma vez - e agora acho que isto ocorrerá pra sempre - não tivesse retornado pra moradia da auto-destruição, o pedaço de caos e contravenção residente em mim. Não posso desvencilhar-me da grandíssima maldade que existe no ser humano. Coloco no ser humano a maldade porque tenho dificuldade em crer que somente em mim, somente eu sou o porta-voz da truculência. Ou sou lúcido demais, e os outros não, ou realmente preciso me matar, porque coisa assim não se cura.
O mal... não atribuo casos de maldade. Não posso exemplificá-lo, visto uma certa relatividade presente nos valores. Matar é bom e é mau, roubar é bom e é mau, por aí vai. Mas posso investigar propriedades e mesmo sua definição, ainda que rasa em certo sentido. O defino como “aquilo que escondemos em função de ser o ideal”. Observe como isto é, de novo, relativo. O Mal aqui é matar, caso se preze a sobrevivência humana. É o machismo, pra quem cansou do patriarcado. E é simplesmente a vadiagem pra quem se compromete a estudar. O mal nos acompanha porque sempre iremos findar algo; enquanto findarmos esta coisa - que está acompanhada de um estilo/conduta de vida, haverá seu contrário diabólico. 
E uma propriedade do mal? Bom, em mim, é a destruição. Somente isto. Destruímos a égide da virtude quando a corrompemos, e logo nos vemos à beira do suicídio - especialmente quando não há saída. 
O suicídio, afinal, me parece isto: uma aporia. Aporia vem do grego  
απορία, que é, basicamente, beco sem saída. O caminho é o erro, a respiração é o erro, o andar é o erro, estar parado é o erro. Exaustos, exauridos, decidimos nos matar porquanto é esta a única solução. 
Assim, assimilo que caos/mal e suicídio estão de mãos dadas. A cobrança para nos aceitarmos gera o intenso sofrimento de tudo, qualquer tempo e espaço, de estarmos cercado de falhas, feiuras, fracassos. O contrário do ideal é o diabo, e o intenso contato diário com ele dá consequência ao obvio, que é pular da janela.
 Por isso se aceitar é a única saída para o mal, já que vivendo o bem e o mal - aquilo que achamos mais ético e não somos junto daquilo que egoisticamente desejamos ser, respectivamente - paradoxalmente anularemos os dois. Bem vindo ao mundo da contradição, ao mundo das possibilidades. Em excesso, tornar-se o moralmente/eticamente correto faz com que fomentemos a luz, e quanto maior a luz, maior a sombra. O diabo grita com a atenção à deus. E apaixonar-se pelo diabo faz deus sofrer. Enquanto bem e mal brigarem, pra sempre existirão. A solução é dissolvê-los na complexidade paradoxal, que só ocorre com a auto-aceitação.
Vou explicar melhor este último parágrafo. Vejo uma intensa busca do ser humano no campo da ética que se dá no ajustar-se ao que considera eticamente desejável. Caminhamos em busca desta realização, que age como um crivo tanto em nós como nos outros, afinal, aquele que não corresponde ao seu ideal ético (o desejar ser), é visto com desprezo. Racismo é intolerável. O sujeito racista é então, também intolerável. Para com nós, o mecanismo funciona de maneira idêntica: enquanto não pudermos ser o que consideramos ético, nos boicotaremos. Falo de tudo, não sou diletante. O machismo te empurra pra diversas direções, e enquanto não segui-las, haverá culpa e auto-destruição. Nesta briga intensa entre ser o que não é - e supostamente deveria - separo as forças que a compõe. Deus é o ideal, o diabo, seu contrário. Assim, mediados pelo exercício da punição e da sanção, todo nós nos esforçamos a ser deus. A estudar, a ser santa, a ser produtivo, a ser resguardada, a cuidar da casa e ter um carro rico. O diabo onde está? Na vadiagem, na concupiscência, no ócio, na expressão, na trabalho fora de casa e no carro feio, tudo isto respectivamente. 
Tanto faz se deus ou diabo é bom ou mau; refiro-me ao ideal e ao não ideal. 
Bom, o componente do suicídio entra em cena quando estamos em um beco sem saída, sendo vigiados por deus e sua patrulha angelical. A pressão social é tamanha, a pressão interna é gigantesca, tudo berra e pune. Quando não há mais movimento possível, o suicídio é o que resta. E para fugir deste labirinto, creio na dissolução do bem e do mal como saída. Aceitar-nos inteiramente, de forma não unilateral e completa. 
Enquanto deus e diabo brigarem, pra sempre existirão. Só na transformação destas duas coisas e uma só é que dissolverá o conflito. E creio, estaremos livres do suicídio.
Agora, e pra nos aceitarmos? Infelizmente não acredito que minha resposta possa ser a sua. Mas posso tentar supor algo. 
Deus e diabo brigam; aceitando a existência e razão de ser dos dois, o conflito some. Somente investigando profundamente - e deixando ser - os dois, é que os ânimos dentro da mente se acalmarão. Ninguém, quando calado, se silencia. As vozes em nossa mente e suas reivindicações também não. Portanto, administrar a devida carência dos nossos “objetivos éticos” faz com que elas fiquem mais em paz, seguras de que recebem a atenção necessária. Me parece assim, um jogo de força, e a vitória de um, é a derrota da outro. Se você usou o final de semana pra estudar, atingiu o tal do objetivo ético. Mas se todos os dias e a contra-gosto o fizer, alguém vai berrar nesta história. Deixando de escutar os gritos de atenção, teremos o que basicamente existe hoje: gente de 18, 19, 20 anos tomando remédio contra ansiedade, depressão e o que mais o corpo chorar. 
Não fujo da regra; tenho seis vozes dentro de mim. Cada uma aspira a algo: usar a ciência como explicação de tudo, “ser homem”, participar de movimentos sociais, ser caloroso e ultra-feliz, não ser egoísta, ter modos requintados e diferentes da turba. E pra cada uma destas vozes, há uma antítese. O lado da ciência briga com o lado da fé; o feminismo briga com o “ser homem”; os movimentos sociais brigam com minha vontade de não sair de casa (também com o BDSM e os momentos onde escapa uma risada minha sobre uma piada de cunho heteronormativo); o ser caloroso reclama do meu pessimismo, introversão e misantropia; o não ser egoísta reclama da minha vontade de chamar atenção, ser especial pra alguém e pra mim. 
Podem observar a briga na minha cabeça. Quem vence? Deus, o ideal. E assim, cansado de brigar com ele, admitindo minha derrota e o fato de eu estar sempre errado, admiro o suicídio como saída. Mais: não é à toa que gosto da figura do diabo. É porque detesto deus dentro de mim.
Tomei algumas decisões na minha vida, e uma delas é contemplar o Tempo, com letra maiúscula e de grande significado: deixar as coisas acontecerem, deixar que o coração fale mais alto do que o normal, assim como aceitar as contradições. Amo filosofia, e amo astrologia  Penso que nenhuma deidade existe, mas faço magia. Enfim.
Este é o caminho da auto-aceitação, penso eu. Um eterno olhar para tudo que existe, e dialogar com todas as partes que brigam entre si. O machismo em mim, e o pró-feminismo em mim. A ciência e a fé. A misantropia e a filantropia. Deixar sentir...
Bom, espero que alguém leia este texto, e dele surjam bons sentimentos, boas ideias, mais alívio e tranquilidade. Suicídio é... é algo que fujo e amo. Enquanto puder explicar racionalmente tudo que vivo, e pessoas entenderem e se aproveitarem da melhor forma meus escritos e pensamentos, me sentirei feliz. Afinal, me vejo útil desta maneira: expressando-me num foro mais psicológico/filosófico, ainda que dialogando com o cultural. Exercito minha excelência assim: prestando esclarecimento a certa vivências que em geral não são postas em termos filosóficos (em busca da essência das coisas). 
É isto.

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