domingo, 8 de novembro de 2015

Realizações

Este texto não tem uma mensagem final, nem levanta problemas. Pelo contrário, apenas deixa registrada as soluções que eu encontrei para alguns questionamentos. É uma pena que seja assim, tão sem graça. Mas... é realmente importante pra mim escrever estas respostas - tanto como maneira de fixá-las na minha cabeça como para finalizá-las. As questões que eu havia feito a mim são basicamente: o que fazer com minha vida agora que não tenho objetivos e a felicidade não mora no futuro, mas aqui e agora que escrevo neste momento? Pra quê viver? 
Sobre "pra quê viver" eu já tenho minha resposta. Tá lá no final deste blog, texto sobre o Tudo. Quanto o que fazer pragmaticamente, aqui estão as respostas.
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Organizando o dia, fiz uma pesquisa curta - porque não foi necessário demorá-la - sobre aquilo que convém acontecer cotidianamente na minha vida. 
O cotidiano deve ser recheado de coisas básicas e óbvias, pois a felicidade não nasce da complexidade, e nem é bastão que se apegue e diga "agora sou feliz". Não, senhor. Felicidade é a coisas simples. O prazer de ler não consiste em terminar o livro, mas é o súbito momento em que você lê algo, arregala os olhos e prende a respiração porque está excitado com a informação na tua frente. O mesmo da felicidade. Ela não está no final de algo, e nem é uma conquista, mas os curtíssimos momentos que funcionam como combustível ao nosso corpo (ou sopro para a alma, como queira). Curtíssimos mesmo. Por exemplo, a risada que você deu e durou 30 segundos, o abraço de uma eternidade mas que já foi embora assim que você se despediu.
Acho importante dizer que fico preocupado que pense que eu esteja fazendo papel do ditador da felicidade, o cara que não aguenta ver uma tristeza e já receita remédio ou faz discurso motivacional. De forma alguma sou um bobo sorridente que acorda com um pote de margarida enfiada na cara. Na realidade, meu conceito de felicidade é prático e inclui a dor, pois não creio que são coisas que se contradizem. Se felicidade for conexão, sinceridade, desafio, pausa, tudo isto abraça a dor.
Veja bem: ser feliz seria estabelecer os pressupostos que me garantissem tudo isto. Conexão para estar associado com os seres ao meu redor, causando o pertencimento e o carinho pelos entes orgânicos e inorgânicos; sinceridade para enfrentar os monstros e os conflitos mais fodidos da mente humana; desafio para não atravancar na mesmice da comodidade da inflexibilidade da falsa segurança; pausa porque respirar é preciso. E onde entrar a dor? Em tudo. Necessito me conectar com minha dor, desafiar o cotidiano e dizer o que dói, ter coragem pra enfrentar minhas dores e pausa para senti-la com cuidado e carinho. 
Ser feliz, então, é permitir os pressupostos para que eu possa me realizar com tudo isto que acabei de falar. E creio ter encontrado o tal do obvio e básico <Santo Deus, como amo princípios, princípios e princípios! >
Vamos lá: saúde foi a primeira coisa, porque amo ter fôlego pra fazer sexo, e porque gosto da ideia de pureza corporal. Assim, escolhi pequenos hábitos que atendessem esta necessidade - ser saudável -, como beber água de manhã e me alongar durante o dia. Mas vou não vou me forçar a fazer coisas extravagantes como correr e fazer exercícios. Minhas experiências passadas com o comprometimento associado à pressão não deram certas Que tudo flua naturalmente.
Ainda neste aspecto da saúde, coloquei o descanso como prioritário. Não dormir é horrível, sinceramente.
Vejo a saúde de uma forma um pouco mais amplo do que só cuidar do corpo. É da consciência corporal que estou falando, moça. Respeitar meus limites, conhecer minha dor e festejar minha aparência, porque acredito que ela é fundamental. Faço um apelo não à beleza, mas ao Belo. Sejamos Belos, vamos transmitir o frescor do Belo. Se vestir, se maquiar, pentear o cabelo, passar perfume, desodorante, tudo isto é essencial para a convivência humana. É demonstrar respeito ao outro que, pelo amor de Deus, possui nariz. É tornar o ambiente mais vivo e interessante, com as chamas de nossa natureza vivas. Fala sério, não é lindo ver gente linda e arrumada? Não é lindo ver gente que se veste da forma como quer? Não é lindo ver a diferença que as roupas nos proporcionam? 
Obviamente, existem roupas que vieram ao mercado pra que nós, consumidores burros, compremos. Mas estas daí não proporcionam a diferença. Eu tô falando da mistura e do prazer de criar. A artista cria e diz sobre ela, sobre o momento e sobre o mundo quando lança pra fora sua criação. Cuidar da aparência é isto: criação. Falar de suas origens, mostrar o que ama, dizer o que pensa. Nada disto tem a ver com botar a aparência como porta de entrada para a felicidade, ou comprar roupas caras. Quem pensar assim é porque não entendeu bulhufas do que eu disse. Então repito: crie e recrie o modo de se expressar com a realidade do cotidiano. O guarda-roupa é um modo de aliviar as coisas presas na gente. Grite!
Saúde e aparência. Grandes pressupostos para eu ser feliz (nos termos acimas apresentados).
Chega de falar disto. Vamos falar sobre o restante: tempo, espaço e auto-empatia.
Tempo pra fazer tudo. Tempo pra tudo; pra ser feliz e pra chorar. Pra conseguir o que eu desejo e pra fazer aquilo que me obrigam a fazer. Tempo pra pensar, e tempo grande pra não pensar - isto realmente ajuda na hora de tomar decisões. Tempo pra acordar e comer, tempo pra vadiar e trabalhar. Não há muito o que escrever, pois já foi dito pelos Titãs isto tudo, ó:

"Tenho tempo pra gastar 
Tenho tempo pra passar a hora 
Tenho tempo pra desperdiçar 
Tenho tempo pra jogar fora 


Tempo de sobra pra levar 
O tempo que resta pra ir embora 
Tempo de sobra pra esperar 
O tempo que resta a partir de agora 

Eu realmente não sei 
Que horas são 

Tem lugar de sobra até aonde posso ver 
Tem espaço bastante pra se perder 
Tem lugar de sobra até aonde posso enxergar 
Tem espaço bastante pra ter que parar 

Tenho o dia inteiro pra andar 
Eu quero o dia todo pra andar sem direção 
Tenho quatro paredes pra derrubar 
Eu quero quatro paredes pra pôr no chão 

Eu realmente não sei em que mês estamos 
Eu realmente não sei qual é o dia do ano 
Eu realmente não quero saber "


O tempo é importante demais, gente. Pressa não é minha praia, já viram.

Sobre o  o espaço, é o que compõe o tempo. Se desejo o meu tempo pra fazer as coisas, desejo o meu espaço pra realizá-las. Então, é necessário que ninguém fique no meu pé me julgando, para que meu coração sozinha decida os meus movimentos e rumos. Já cansei de pessoas falando como eu devo fazer isto, e ainda mais da pressão para ser uma estrela. Zoado, mas eu te explico.
Olham pra mim e dizem: puxa vida, como é jovem! Aproveite o tempo que tem, porque depois, acaba!
Creio que estas pessoas, quando dizem isto, supõem estar aconselhando, ou ensinando algo que consideram valioso. E depois complementam, descrevendo como a vida é cruel, como o mercado de trabalho é cruel, como o dinheiro é cruel, e como a vida do jovem é boa etc.
Olha, demônio. É impossível que eu fique tranquilo neste sábado sabendo que futuramente, não terei tempo pra nada. Ou eu me pressionarei pra me preparar pro mercado de trabalho (estudando bastante, indo bem na faculdade, aprendendo línguas etc), e neste caso, não serei feliz e nem tranquilo e nem calmo o suficiente pra absorver informações; ou eu não me pressionarei, e me sentirei culpado por nada fazer, já que estaria "jogando fora as oportunidades maravilhosas que a vida te dá". Cara, como me sinto mal com isto. Pressão é horrível; supõe competitividade, acumulação de conhecimento, segurança futura; e culpa é pior, porque ninguém é feliz com culpa.
Por isto preciso de espaço. Não me pressionem de nada, absolutamente nada. Se todo homem e toda mulher é uma estrela, não preciso de ninguém pra mandar eu brilhar agora. Farei isto naturalmente sem o remorso que você se sente por ter escolhido uma vida que não te agrada, e por ter tomado decisões que não te agradam.
Me deixa fazer as coisas do meu jeito, da forma como eu entendo que darão certo. Me deixa aprender da minha maneira, me deixa ler da maneira como eu quero. Me deixa planejar da forma como eu planejo, me deixa ter as ideias minhas e nem me diga como realizá-las. Se eu pedir sua opinião, ela será bem-vinda. 
Sim, eu sou responsável pela minha vida. E pra eu fazê-la acontecer, necessito respirar para expandir. Sai do meu pé, inferno de gente que vive de agenda, horário, programação e segurança. Eu sou diferente, sorry.

Quanto a auto-empatia, é o amor que eu tenho por mim mesmo. Sou tão acostumado a escutar os outros, que esqueço de mim. Aliás, todos nós esquecemos de nós mesmos. Ou agimos para o outro, ou agimos segundo algo que pensamos ser a gente, quando na realidade não é (talvez as duas coisas sejam iguais).
No momento, estou usando auto-empatia (não sei porque, não gosto desta palavra), me questionando sobre o que quero fazer como profissão e realização de sonhos. Mas já vejo onde isto vai parar: pressão. Pressão para ser e fazer o que quero. Daí, culpa, ansiedade, etc. Penso que uma melhor opção é observar valores que eu considero em minha vida, e o que melhor prover estes valores, será consequência e provavelmente, profissão. Por exemplo, eu tenho um valor que é a democracia, o que pressupõe o livre pensar. Amo a liberdade e a diversidade de opiniões.
A pergunta é: como desenvolver isto? Como saber lidar com gente que pensa o oposto de mim? Isto é essencial em minha vida.
Tenho o prazer em dizer isto: hoje escuto o discurso militarista e não fico irritado. Escuto o discurso evangelista que ou-você-é-de-Jesus-ou-ama-o-demônio e fico tranquilo. Fico calmo quando ouço alguém falar que o PT alimenta vagabundo. Estas compreensões não são só teóricas, mas abrangem algo magnífico, que é a capacidade de entender os elementos que compõem o mundo diferente do meu. Eu não digo "até entendo, mas...". Digo "entendo, e". Sou capaz de encontrar as verdades nestes discursos acima ditos. Sou capaz dizer: concordo com você.
O meu negócio é deixar de fazer os discursos, coisas excludentes. Chegar numa posição onde não é x ou y, mas z. Isto é um objetivo na minha vida.
E pensando nisto, creio chegar naturalmente onde quero. Veja só: descobri a mediação de conflitos, que trabalha exatamente com isto. E estudo filosofia, que busca analisar as coisas de maneira minuciosa e imparcial (na medida do possível).
Então pergunto: quais são meus valores? Ainda escrevo sobre isto.

Então recapitulo. A felicidade é o conjunto de condições que me permitem seguir em frente na vida. E pra eu seguir frente, necessito de saúde, descanso, tempo, espaço e auto-empatia. Fui.

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