segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Sobre ser Bem-Sucedido

Ultimamente tenho dito a mim mesmo que já sou bem sucedido, pois temo que esta palavra seja "uma piada, e um tanto quanto perigosa" (Raul Seixas). Pensa só: ser bem sucedido é um lugar que milhares de pessoas se matam pra alcançar. Isto implica na competitividade, que ao meu ver, é destruidora. Não consigo imaginar uma mente saudável em um meio que cobra e nos pressiona a ser melhor do que os outros. Por mais que você estude muito e se garanta neste inferno, conseguindo controlar a ansiedade, a mentalidade por trás da competividade é que é doentia.
Afinal, é você ou ele! O luxo ou a lama. Não há "que o melhor vença". O pano de fundo da competitividade no mercado se baseia em pisar nos mais fracos, e se erguer diante deles como um não sei o quê alfa.
Acho que tô exagerando. A falta de escrúpulos é o real perigo, não a competitividade. Mas me parece que o que cola de verdade, isto é, aquilo que realmente combina com a competividade é a ideia de que somos inimigos em comum. Não estou tão distante da realidade, estou?
Pelo menos é assim que eu enxergo e sempre enxerguei as competições. Chorava quando tomava gol de pênalti, chorava quando perdia em jogos de tabuleiro, me irritava quando não tirava 10. A vida é um chicote que açoita os incapazes.
Eis aí uma das moradias do medo que sinto quando ouço a palavra "bem sucedido". Temo acabar ansioso e com auto-estima baixa na busca pelo topo.
O outro medo é que temo lutar pra ser "bem sucedido" e gastar uma vida inteira pra, só no final dela, perceber que corri atrás do verdadeiro nada.
Uma prima minha um dia me falou de uma tal de "curva da felicidade": somos jovens e desejamos tudo. Lá pelos 40 ou 50 anos, descobrimos que os nossos sonhos não vão se realizar por completo. Aí cai e ficha e percebemos que não conseguimos tudo que queríamos. Bang, desilusão na certa. A curva da felicidade cai neste momento.
Quero fugir disto. Não quero descobrir que a vida já foi. E mais! E se eu chegar lá, e lá, descobrir que foi tudo uma ilusão? Quero dizer, sempre sonhei em cantar em público. No dia que isto aconteceu — mesmo que pra uma platéia pequena —, senti um vazio imenso.
"Foi tão fácil conseguir e agora eu me pergunto: e daí?" (Raul again).
Por isto destruí meus sonhos. Sonhos não andam, não comem, não riem. Sonhos são mentiras que, apesar de nos fazer andar, serão, inevitavelmente, o abismo onde cairemos.
Dizer isto me desperta um certo medo. Estou indo contra a forma como me ensinaram a pensar: orientado para o futuro, em busca da realização de nossos sonhos. Demolindo os sonhos, desmancho o olhar para o futuro. Só há presente.
Mas aí uma pergunta fica sem resposta: posso desejar algo?
Pois todo desejo implica em um fim. O meu grande problema é o fim. Ou o alcançamos, e vemos
que ele não é tão glorioso como parecia; ou nunca o alcançamos, gastando meia vida em busca do nada. Como escapar da armadilha de orientarmos nossa vida para um fim?
Talvez se o fim for o meio, as coisas mudam. Por exemplo, o fim de aprender. Aprender requer o aprendizado (um fim em si mesmo). Isto é diferente de aprender para ser inteligente.
Esta é uma ideia. Quero, agora, mostrar como posso sustentar a ideia de que já sou bem-sucedido.
Ora bolas, eu tenho as constelações para desvendar à noite. Tenho comida pra comer. Tenho minha mãe pra amar. Tenho família. Estou adquirindo cada vez mais segurança emocional e assumindo minha integridade. Isto tudo me basta.
Mesmo? Tempo pra repensar.

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Algumas horas se passaram desde que escrevi o último parágrafo acima. Me questionei sobre a satisfação, e fiz o seguinte jogo: perdendo tudo, absolutamente tudo, o que me garantiria a luz de estar vivo?
E percebi que a saúde é de extrema importância. Mais exatamente, é necessário que eu respire, coma, beba, delibere as substâncias não utilizadas e durma. Claro que outros ítens podem e devem ser acrescentados — como higiene, cuidado com a pele, etc —. Entretanto, meu foco é aquilo que resta diante de toda e qualquer catástrofe.
Mas não basta a saúde, pois mesmo diante de um corpo saudável, posso enlouquecer ou cair em depressão. O que falta, então?
Chamei este componente de integridade. Ou auto-comprometimento. O lance é o seguinte: ser fiel a mim mesmo. Ser o advogado de todas as partes minhas. Estar seguro comigo mesmo.
Ser bem-sucedido é isto: ter auto-comprometimento e ter saúde.
Que TODA minha vida seja orientada neste aspecto. Amém.

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