sábado, 14 de fevereiro de 2015

10 Minutos

23:50
Aguardou o momento certo. A última tragada no cigarro, a bituca no asfalto e sim, agora seria o momento certo.
Pintou a paisagem com seu olho azul e respirou com fraqueza. A lua, as estrelas, a astrofísica, tudo macrocósmico era irrelevante. Só podia se interessar pelo momento certo.
23:51
Entrou no carro, checando todas as precauções: a chave estava na ignição, e o banco, confortável. Abriu o porta luvas.
23:52
Tirou de lá sua arma.
23:53
A colocou em sua jaqueta de couro, que tanto protegia contra o frio. Mantém o calor porque esta é sua finalidade.
E se tudo tivesse finalidade?
“Então a minha seria puxar o gatilho”, e riu.
03:47, dia anterior.
Sonhara com o rosto desfigurado de seu marido. Completamente destruído e aniquilado, pingando sangue, com a carne de seus lábios dependurada.
E acordou em pânico. Olhou ao seu lado: ele acordara também.
"— Alguma problema, querida?"
Seu olhar angelical a acalmou, e então dormiu novamente.
23:54
Mas agora era pérfido. Dissimulado. Estouraria seus miolos com prazer.
23:55
Olhou para o relógio. Com suave firmeza, abriu a porta. Subiu as escadas como se quisesse retardar o tempo, apreciando os milésimos do silêncio que precedia um baque.
23:56
Abriu a porta do quarto, e de fato, viu ele com outra. Ruiva, devassa e agora, assustada…
Olhou firme para seu corpo desnudado. Toda beleza desmanchada pelo sangue da carne, logo, logo…
23:57
"— Espero que saibam que isto não é filme."
Os amantes sabiam! Não teriam o que explicar, não era um mal entendido. Era a verdade nua, desnudada, despudorada, solta, livre.
Da cama, havia brotado o prazer, e agora, o tabu.
Da traída, brotava a dor.
23:58
Sacou a arma. Passeou pelo quarto. Olhou pela janela aberta, atenta ao cantar do grilo.
23:59
Mirou no marido, que assustado, prendeu a respiração.
Mirou na ruiva, que mordeu os lábios e se agarrou fortemente nos braços de seu amante.
Ergueu a arma em direção a própria boca. Puxou o gatilho.
00:00
O grilo finalmente descansou.

Um comentário: