sábado, 14 de fevereiro de 2015

Bêbado e Neurótico

Eu, cá, e a vida, lá. Estou oferecendo as máximas resistências que meu corpo aguenta, num luto ardente, violento e jovial.
Minha cabeça é um receptáculo de alicerces, onde construo, mentalmente, toda as barreiras de cimento. Sou concretista, duro e material: tenho 10 toneladas de pensamentos, todos eles espinhentos, ásperos e conclusivos.
São conclusivos em termos axiomáticos quando medidos em toda sua extensão.
Sou inflexível? Muito pelo contrário: a argamassa é fresca, pronta para construir estátuas, rodovias e muros.
O axioma consta no universo da construção: os andaimes sobem e descem, os pedreiros trabalham arduamente, o  cal consome os ares deste universo.
E fora dele, não há salvação.
Às vezes, me parece lama, ou areia movediça. Estou preso, e de forma ilógica, me defendo de outras alternativas. Até quando resistir? Até quando cuspir na vida, e torná-la um movimento de meus pensamentos?
Eu me movo no compasso da formulação racional, sempre em processo de inconstâncias. Torno a velocidade do universo uma propagação de um impulso da consciência.
Mas fora de mim, a madeira do meu quarto respira calmamente. A cama dorme, tranquila. E mesmo o barulho dos vizinhos são pacíficos.
Estou armado, lutando contra a mastigação da vida, a pulverização de meu ser. Não quero deixar a pavimentação, o piche e meus muros de concreto.
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Meus sonhos são todos extravagantes. O sono é o picadeiro, e meus complexos, artistas inesperados.
Danço, pulo, rio, choro, ando de perna de pau, sou uma mulher barbada, um trapezista forte, um palhaço ridículo. A lona de minha cama, junto do brilho das estrelas, compõem o espetáculo.
Sou romântico por excesso, surrealista em excesso e dadaísta em excesso. Tudo são excessos: meus vícios, meus impulsos suicídias, meus desejos de vida, minha solidão e meu amor.
A Lua canta por mim. Já de dia, o Sol esquenta a construção, como se eu fosse o demônio a labutar.
Tudo é tanto, tudo é bastante, tudo é grande, e todo grande é apogeu.
Eu quero fugir da pedreira e do asfalto. Quero poder rir os símbolos que meu inconsciente vomita.
Mas existe uma mão invisível, um peso que não permite o devenir. Uma mão que parece um carimbo, ou uma arma.

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Tudo funciona quando rezo. Tudo acontece quando sinto. Tudo funciona quando me equilibro.
Apenas me mantenho na corda bamba quando ao lado de Deus, dos arquétipos, dos símbolos, dos números, dos signos e da natureza.
Necessito aceitá-los. Necessito vivê-los.
Do contrário, sou um artista bêbado, decadente e velho, com as vísceras comidas pela melancolia dos filósofos; ou então, um militante utópico, crítico e altruísta — a ponto de anular o próprio ser em prol de uma causa.

All you need is less.

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