sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Bosque, Arbusto e Bisão


Gozar um espesso pano branco é tão significativo quanto dizer “Bom dia” para Josué, fino homem que nos serve pão.
O gozo, espectro sólido, resto de fantasma: quem sabe não é minha ânima se esvaindo aos poucos? Boca boceja, grita e também fantasia suicídio. Morte, lenta, curta e agonizante.
O que me restou, afinal? Minha ectoplasmática sobra de alma, o gozo grosso, que dormente se agarra no lençol branco.
A colcha branca, as paredes brancas, o branco albino de suas costas, a branca cortina que enleva nossos olhos de leões da selva. Passamos do lívido para o castanho do bosque, minha ruiva apaixonante.
São tantas as pintas, que considero suas costas um amontoado de cheiros exóticos. Os pontos costurados, marrons, sobressaem de sua pele, enquanto passeio firmemente por entre um vão e outro, que me permitem conhecer, dedo por dedo, os rios de teu sangue, as veias de teus mares, as artérias do seu delta, a embocadura principal de teu corpo, uma floresta fantástica, úmida, risonha e carnuda.
Tu és branca, ruiva e magra. Sou uma imensa árvore, grossa e verde. Vivemos juntos, mas separados.
Observo-te nua, fugindo dos sátiros, enquanto dissimula não querer ser possuída. E afinal, não se consome o ato.
Tudo são sorrisos e provocações, gente infantil, aguardando a maturidade de alguma dor séria.
Mas eu, imensa árvore, distante de tuas arruaças, aguardo a deflagração de seu ser adulto.
Um dia, minha ruiva, notarás a dor da falta, e não serás completa como foste nos tempos de sarros, meras provocações, meras esculhambações da vida vadia, maçã leve, balançando calmamente por entre as folhagens do nosso bosque. Minha ruiva, a vida é um moinho. A vida é a dor que consumirá seu olho esquerdo, a boiar na completude da busca. Quando a fruição infantil te sobrecarregar, é porque a preocupação brotará em seus tejos. Tornar-se-ão opulentos, firmes e ricos. Serás sadia, de carnes poderosas e atraentes.
Os sátiros logo buscarão pretendentes, mas reconheço sua indiferença. Seu profundo pesar impede qualquer aproximação.
Tanta dor assim buscará o remédio, solução para as agonias, a aflição de estar completa de vazios. O corpo não promete mais, somente lágrimas corresponderão ao pedido.
E então, sentarás ao meu redor, desejando a Eros que toda robustez de minha figura, árvore inerte, seja tronco em sua coluna vertebral, hirta e certa. Queres a certeza, minha linda ruiva?
Pois assim será tua mágica súplica: reduzo minha eterna sabedoria em um pequeno galinho. Agora, guarda meus finais em ti, e busca a vida lá fora.
Vai ser gauche na vida!

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