sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sonho de Nudismo

Eu ontem, andando pela Paraíso, me peguei vagando em um outro plano, tão fantástico e ingênuo que me fez rir sozinho entre outros rostos desconhecidos que, quem sabe?, também não viajavam no ácido da imaginação.
— Marcos?
— Eu!
Abraço meu amigo, e seus olhos verdes sorriem para mim. De repente viro a cabeça e avisto um bando de loucos correndo em nossa direção, todos nus, gritando a juventude mais imbecil e risonha que conheço.
Ao avistá-los, senti meu coração virar manteiga. São meus verdadeiros compatriotas, gente companheira, o meu ninho.
— Hei, eu posso participar?! Gritei.
Um cara de rastafari e uma menina loira se viraram pra mim, concordando em uníssono, um pouco incrédulos.
Olho para meu amigo. Cara, vamos?!
Meio estagnado, disse que não. E eu, simplesmente me despi correndo, pra não perder a migração das aves. Foi-se a mochila, a camisa, a calça e a cueca, entreguei tudo nas mãos dele.
Tó.
Mas meu amor, eu corri tanto, mas tanto!
*******

Depois imaginei-me em minha cidade ritualmente natal, pois apesar de lá não ter nascido, foi o surgimento de meu ovo, e aqui em São Paulo, estou lentamente quebrando-o, revelando todas as possibilidades de meu ser.
Esta cidade natal é anacrônica, pois encarcera todo meu antigo eu, mal visto por muita gente.
Logo mal visto, logo mal interpretado, logo ambiente modelador de mim, logo a imagem se apoderou da minha existência.
Mas passemos pelos bons momentos:
Duas meninas e três meninos, eu incluso no segundo subgrupo, aproveitando um sábado que, curiosamente, permitiu aquela algazarra. Nunca havíamos nos visto antes, só pelos corredores, e pelos simpáticos ois, mas nunca juntos e bêbados, de tal forma que o encontro parecia um presente do destino.
— Não esperava isso de você!
A outra concorda.
— Sei lá, você parece tão…
E faz cara de planta.
Eu, bêbado, retruco dizendo que, o que diabos você está querendo dizer?!
Um intruso do grupo, mas conhecido meu, ri, afirmando junto delas.
— Você tá dizendo que eu sou tipo, nada?
— Não! Só que você é muito quieto e zen, sabe? Não esperava… Isso.
Fiquei envaidecido: este espírito de porra louca me faz bem.
Conversas, piadas, danço e canto de vez quando, abro meu lado non-sense, todos se impressionam e riem.
Proponho logo de uma vez:
— Já que você tem que carregar o celular, e podemos fazer isso na minha casa, por que não vamos todos nós de cueca?
Os três meninos bravamente desfilam os corpos seminus enquanto as meninas seguram nossas roupas. Eu bem que tentei convencê-las de irem conosco, de calcinha e sutiã, mas negaram veementemente.
Prontos?
E todos nós corremos. Eu bêbado, ele bêbado, ele, fisiologicamente sóbrio mas conscientemente bêbado.
Preciso dizer o quão lindo foi aquilo?
Depois, no final do trajeto, esperamo-nas, nossas mulheres de Atenas. Nos vestimos e rimos da bobeira de nossos corpos.
Mas na Paraíso, enquanto me recordava disto, resolvi apimentar minha volta para a cidadezinha, caso fosse passar o ano-novo lá: que tal correr nu?!
Obviamente, escolhi o cara mais sem noção pra participar desta Ilíada, o Imperador Augusto — lembrando que estamos em uma cabana, que é meu onirismo.
— Vamos, pelados?
— Uai, vamo. Se você for, eu vou.
Estamos de cueca. As pessoas em volta de nós aguardam ansiosamente o debandar dos pintos e bundas.
— Cê tá ligado, né? Ficar de cueca é fácil. O foda vai ser se desnudar.
Ele ri, concordando.
No três, cara.
Contamos até dois e meio, e vacilamos no último número. Rimos juntos.
— Quer saber? Foda-se.
Tirei a cueca e corri pela velha rua daquela velha cidade.
Depois que imaginei a cena, parei pra pensar no depois, pra pegar a roupa.
As pessoas ririam, se assustariam ou se envergonhariam? Tudo junto. Mas e se houvesse uma possibilidade d’eu constantemente estar nu em frente à todos, sem vergonha, pudor ou escrúpulos?
Aguardo este dia. Enquanto isso, projeto-me em uma praia de nudismos. E rio imaginando uma repentina ereção. Teria que desesperadamente correr em direção à água, não sei quantas vezes.
Bom, respiro, retornando à rua da Paraíso. Uma velinha passa e sorri por conta de meu cabelo roxo.
Olho pra tanta gente: quem sabe não estão também divagando desejos secretos?
Quantos pintos, bundas e bocetas não estão vagando por aí, de porão em porão, sonhos e sonhos, mentes e mentes?
Nudez risonha, vergonha provocadora, medo mas vontade.
Olho pra velinha. Seus cabelos brancos não enganam, moça.
Mas não enganam mesmo...

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