sábado, 14 de fevereiro de 2015

Linguarudos

Beijos são muitos, milhares, bilhares. Não existe essa de alguém beijar bem ou mal: a língua está longe de avaliações.
O que existe são línguas tímidas e/ou expansivas, egoístas e/ou altruístas, medrosas e/ou charmosas. Cada uma com personalidade própria, entrosando com papilas gustativas alheias, se descobrindo e ampliando todas as próprias possibilidades.
Beijo bom ou ruim não existe; o que existe é uma boca gostosa e que atende bem aos parâmetros anatômicos/psicológicos da nossa. Às vezes o encaixe favorece, às vezes não. 
Não caiemos na predileção, adotando medidas rigorosas para um ótimo estalar de lábios. Beijo não é “Top 10 hits da Madonna”, beijo não é professora de caligrafia, beijo não é teste de audição. Beijo é sensação estética, profundo momento artístico de contemplação. 
E mesmo que não haja êxtase, paciência. A música que não soa bem às vezes é por culpa da cera em nossos ouvidos, e não da guitarra doida espacial.
Pergunte então sobre o juízo: subjetivo ou interpessoal?
Quero dizer, nossos apontamentos são puramente exclusivos ou atendem aos valores de uma sociedade? 
Ah, a historicidade do beijo. O belo não só varia de indivíduo para indivíduo, mas também de sociedade para sociedade; e quem sabe o beijo também não? Vai saber como Sócrates, Descartes ou Locke beijavam.
Mas espera. Comparar a arte com o beijo é supor que não há somente a expressão emocional, a catarse das papilas, mas também a técnica do ósculo.
Para que soe o acorde, é necessário também o treino do mesmo. Feeling e prática. Mas e o beijo?
Será que existe um manual do beijo? 
Será que existem escolas do beijo?
E profissionais do beijo?
Não sei, não sei. O que me basta é a psicologia da língua: conhecê-la e desvendá-la toda. Sem bom ou ruim, apenas o movimento, os desencaixes e as torções.
Tá, mas e quem tem mal hálito ou bate os dentes?
É uma boca medrosa. Para corrigi-la, ou utilizamos a ironia e depois a maiêutica, a convertendo pela dúvida de que talvez não seja a boca mais fantástica do mundo, reduzindo a petulância aos poucos, ou sejamos comportamentais, tacando-lhe o inseticida: reforço negativo.
Brincadeira. Bocas assim ainda não cresceram, e não tomaram consciência da própria existência.
Ou simplesmente acordaram de mal humor.

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