sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Duelo de Sombras e Luzes

Era quinta-feira. O quase fim da semana letiva anunciava sua tarde: raivosa em cores, mas cinzenta dentro de mim.
A expressão do Sol tornava os contornos mais nítidos. Um aspecto natural da beleza era ressaltado sob a luz dourada. Os olhos castanhos possuim cheiro; os olhos negros, origem cultural.
Já os meus, vermelhos de cansaço, e unicamente os meus vermelhos de cansaço, ardiam.
Me arrastava em direção à saída escolar, sob o soar do sino. Apesar de este indicar que o tempo havia passado, não notava presente seu significado. O tempo era uma camada invisível e quase intransponível: era eu escravo dos ponteiros e senhor de uma desesperança aflita mas não contida. Meu vazio prolongava-se pelos braços, pernas e têmporas.
Talvez estivesse afundando no tempo, como um escaravelho na areia movediça.
Ou melhor: eu era consumido pela vastidão infinita de mim. Consumado até as veias por algo distante em medida de dois universos, mas também incrivelmente próximo, grudado em minha epiderme, pele e cabelo.
Saindo pelo portão, avistei um aglomerado de gente e uniformes: minha classe recostava-se no muro da escola e atirava pela epiglote ruídos sonoros, talvez palavras.
A música que meu ouvido habituou-se a escutar era unicamente o vazio silencioso. Escutar a tarde amorfa fazia-me bem. De resto, qualquer som era barulho.
Preparava-me para voltar pra casa e, já conduzindo a mochila nas costas, um sopro de Zéfiro cutucou meu cotovelo esquerdo. Virei-me nesta direção e algo pesado me afundou. A sensação de uma pata de elefante esmagando-me fez meu coração comprimido acudir e voltar a sua existência cardíaca: lentamente as tropas tornaram a marchar e bombardear o sangue anteriormente estagnado, numa lucidez industrial impressionante.
Foram seus olhos castanhos. Seus olhos castanhos estilhaçaram em cacos meus espelhos. Racharam minha imagem estática e desemperraram minhas roldanas anabólicas. O ar tornou-se tragável e sentia lentamente a gravidade pesar. Fui puxado vetorialmente em sua direção, caindo na diagonal: para o solo e seus olhos castanhos.
Pousava eu lentamente sobre seu mundo urbano e agitado.
Dessa forma, compassei minhas pernas até você.
Observei sua camiseta preta sem estampa e seu cheiro venenoso. Andei o mais próximo possível, e parei por medo de seus olhos, olhos castanhos.
Arranquei uma folha de meu caderno e escrevi:

Rua Vitória Capezzini
Bairro Major Andrade
Número: 111

Embaixo, escrevi com mais força:

Tenho baseado

Te entreguei e fugi.
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