sábado, 14 de fevereiro de 2015

O Que o Sonho Berra

Se arrebenta nos mares da psique
Faz do caos, uma epopéia

Faz meu rochedo consciente
Esvair-se, partindo-o em mil partículas
fragmentárias: complexos de mim aqui e ali.

Para que de repente, numa emersão do dia
O monstro do lago Ness cante
E revele os abismos da água cristalina

Translocando a visão embaraçada
a fumaça da memória
Pondo no meu prato o descortinado quadro vivo

Então eu, de olhos fixos
encaro o macarrão no prato
o relógio da cozinha
e o remédio em cima da mesa:
escuto de longe a quimera dentro de mim

As bestas se agrupam em sinfonia
Cantando em árabe, russo ou grego
A visão embaraçada
a fumaça da memória
o descortinado quadro vivo

Dadaísta, cubista ou surrealista
até romântico às vezes
mas nunca, nunca!, realista

Deixe-me longe da pedra, da pedreira e do rochedo
afaste-me do cimento, do piche e da gasolina
eu quero que junto da dinamite, vá o meu dia
aos ares, para o inferno

Restando apenas:
a visão embaraçada
a fumaça da memória
o descortinado quadro vivo.

E o silêncio da noite:
na ausência de grandes feitos, méritos e medalhas
para que minha retina vasculhe
pó ante pó
os fragmentos do meu mar

ora nadando, ora boiando
nas águas deste imenso oceano
onde tudo sou eu:

a sereia da quarta série
a bruxa do desenho animado
o fantasma do corredor
o embaraço da nudez
meu amor, meus amores
todos os pronomes

[Meu inconsciente é um cálculo
infinitesimal
um átomo de proporções estratosféricas
um dragão do tamanho de uma formiga]

Desenhe sua vida num papel
apague os traços — mas não completamente:
deixe as marcas e os restos da borracha

Esta é a visão embaraçada
a fumaça da memória
o descortinado quadro vivo.

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