sábado, 14 de fevereiro de 2015

Só os Loucos Sabem?

Sobre as pessoas normais.
Os indivíduos normais se despertam de um sono tranquilo — caso os benzodiazepínicos permitam —, bebem do café matinal, se aprontam com os uniformes sociais, vestem a máscara da nulidade, vão para os escritórios e vendem sua força de trabalho. Dentro de um período extenuante, garantem a reposição da labuta através de uma breve pausa. Em seguida, retornam à produção compulsiva. No final do expediente, respiram aliviados: basta a volta. E assim, retornam, enfileirados e centrados no depois, no amanhã, e no depois de amanhã. 
Dentro do carro, do ônibus ou do metrô, se dispersam da tensão social em frente ao celular, ou entre as paredes dos fones de ouvido.
Chegam em casa, abrem a porta, e dentro do lar, desnudam-se do social. Vestem a tranquilidade de mais um dia vencido. Enchem o estômago, alimentam os olhos de fruição gratuita, a televisão. Preenchem a alma com mais um sono, e menos um sonho.
No dia seguinte, elas acordam. Lêem Bukowski, e decidem não ir ao trabalho. Abandonam o paletó e escrevem na parede do quarto mais uma poesia sobre a reificação do homem. Fumam um cigarro e observam os maratonistas desesperados na rua, subindo e descendo dos ônibus, que passam pesados, como um grande organismo. As pessoas normais tragam mais duas vezes, sofrem de uma imensa solidão e fazem escárnio das pessoas que acordam, tomam café, vestem uniformes e máscaras, trabalham, descansam, trabalham mais, voltam para casa e dormem, reiniciando o círculo.
Em seguida, jogam o cigarro fora. Lamentam sobre o capitalismo. Se enfurnam de Marx. Senão isso, decidem ler Sartre. Correm para as ruas e escrevem nas paredes “Você prédio acho tédio/ Você praça acho graça”. As pessoas normais, então, usam saias, deixam a barba por fazer, pintam o cabelo de azul, se divertem com música alternativa. Tornam-se vegetarianas e passeiam pela Augusta. De repente gostam de música erudita também. 
As pessoas normais odeiam as outras pessoas normais. Somos todos loucos.

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